31 de outubro de 2012

Confissões

  -Senhor, por que você veio até aqui?
  -Pra falar a verdade, não sei. Uns me obrigaram e outros desaconselharam, então ouvi a pessoa mais importante pra mim. Não sei se ela fez isso por preocupação ou mero descaso.
  -Me diga, você é feliz?
  -As vezes sou e as vezes não. A coisa que me faz mais feliz é ela, minha esposa e ela esta doente. Eu tenho medo de perde-la. Ela é minha vida. A segunda coisa que me faz feliz são meus livros e minhas histórias. Mas sei que não é uma felicidade concreta, a alegria que me trazem é o prazer de esquecer os meus problemas da vida real, posso esquecer aquele maldito trabalho e todas as outras coisas chatas envolvidas.
  -Então, o senhor vive em um mundo irreal? O que você tenta buscar com isso?
  -Estar longe dela sem um livro é impossível  Na literatura busco meus sonhos, os lugares que gostaria de ter conhecido e acho que nunca irei conhecer. Busco a esperança que me está esgotada, busco a alegria, busco a paz. Busco amigos, busco paixões, busco romances...
  -Me fale então da sua esposa...
  -Ela está com câncer de mama, fazendo sessões de quimioterapia, ela está fraca de corpo e eu de espírito. Ao pensar nela, me vejo aproximando de um abismo, ela está muito velha e sei que não vai durar muito tempo. Só sei que quando esse abismo chegar eu vou pular, pois ela é minha essência de vida. Ela é a inspiração de todas as histórias que escrevo...
  -Sim, e é com isso que ela se preocupa. Estive com sua mulher, pude ver seu estado de saúde. Ela agendou a consulta do senhor comigo. Ela me diz estar triste pois acha que não cumpriu seu papel. Ela pensa que a vida toda nunca conseguiu fazer o Senhor feliz, porém agora vejo que isso não é um fato concreto.
  -Mas por quê ela pensa isso? Ela sempre me fez o homem mais feliz, o seu sorriso doce, era impossível ficar bravo com ela. Se tem algo que não arrependo da minha pacata vida é de ter casado com ela, de ter me apaixonado por ela, de ter vivido ao seu lado todo esse tempo.
  -Agora mesmo o senhor me disse que ela inspirava as suas crônicas e histórias...
  -Exatamente.
  -E se ela é a alegria da sua vida, por que todos os seus textos são tristes, trágicos, dramáticos e confusos?
  -Ai meu Deus...
  -O Senhor está bem?
  -Espero que sim. Então é com isso que ela está preocupada? Ela acha que não me fez feliz? Apenas porque meus textos são tristes?
  -E porque você sempre disse que ela era a inspiração desses seus textos...
  -Nossa, mais não é assim, ela está totalmente engada!
  -Mas é isso que ela pensa, e isso está tirando as forças e vontade dela de lutar contra a doença.
  -O que eu fiz?
  -Eu sugiro que você escreva pra ela uma carta agora mesmo, toma, aqui está papel e caneta, vou te deixar a vontade.
  -Obrigado.
...


Continua...

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